Perturbações do Humor: Estou triste, Estou feliz...

As perturbações do humor constituem um grupo de condições psicológicas caracterizadas por uma alteração significativa e prolongada no estado emocional de uma pessoa. Essas alterações afetam o funcionamento global do indivíduo — suas emoções, pensamentos, comportamentos, relações interpessoais e desempenho ocupacional ou académico.
Perturbações do humor são alterações do foro psiquiátrico cujo elemento central é a disfunção do afeto, manifestando-se por episódios de depressão, mania ou hipomania, isoladamente ou em combinação. Essas perturbações vão além das flutuações normais do humor que ocorrem em resposta a eventos da vida. São persistentes, intensas e frequentemente desproporcionais ao contexto, interferindo de forma significativa na qualidade de vida.
Causas e Fatores Associados:
As perturbações do humor são multifatoriais, ou seja, resultam da interação de diversos fatores:
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Genéticos: histórico familiar aumenta significativamente o risco.
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Neuroquímicos: desequilíbrio de neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina.
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Neuroanatômicos: alterações em áreas cerebrais como o córtex pré-frontal e o sistema límbico.
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Psicológicos: traumas, perdas, abusos, estilos de apego.
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Sociais e Ambientais: stresse crónico, isolamento social, desemprego, conflitos familiares.
As perturbações do humor são classificadas de acordo com os episódios que o indivíduo apresenta:
1. Transtornos Depressivos
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Transtorno Depressivo Major (Depressão Major)
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Transtorno Depressivo Persistente (Distimia)
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Transtorno Disfórico Pré-Menstrual
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Transtorno Disruptivo da Regulação do Humor (infância)
2. Transtornos Bipolares
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Transtorno Bipolar I (episódios maníacos e depressivos)
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Transtorno Bipolar II (episódios hipomaníacos e depressivos)
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Transtorno Ciclotímico (flutuações leves, crónicas)
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Transtornos Bipolares Induzidos por Substâncias ou Condições Médicas
Sintomas Comuns:
Na Depressão:
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Humor deprimido, tristeza profunda
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Perda de interesse ou prazer
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Fadiga, apatia
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Alterações no sono e apetite
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Sentimentos de culpa, inutilidade
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Ideação suicida
Na Mania:
Autoestima inflada (grandiosidade)
Euforia ou irritabilidade anormal e persistente
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Redução da necessidade de sono
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Fala acelerada, fuga de ideias
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Comportamentos impulsivos (gastos excessivos, promiscuidade)
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Julgamento prejudicado
O tratamento geralmente é multidisciplinar, envolvendo:
Psicofarmacologia:
> Antidepressivos
> Estabilizadores de humor (como lítio)
> Antipsicóticos atípicos
Psicoterapia:
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Terapia Interpessoal
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Terapia Familiar ou de Casal
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
Intervenções complementares:
Estilo de vida saudável (sono, alimentação, exercício)
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Apoio psicossocial
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Em casos graves, hospitalização ou terapia electroconvulsiva (ECT) Importância do Diagnóstico Precoce:
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem reduzir significativamente o impacto funcional e emocional, além de prevenir recaídas, suicídio e outras complicações. O acompanhamento contínuo é essencial, pois muitos desses transtornos são crónicos ou recorrentes.

Paulo Horta Silva
